terça-feira, 2 de setembro de 2008

Gafisa compra Tenda após queda de 65% nas ações em agosto

Empresas não serão unificadas e papéis da Tenda continuarão sendo negociados na Bolsa

A Gafisa anunciou nesta segunda-feira (1º/9) a compra da construtora Tenda por meio da Fit Residencial, sua controlada. A operação se concretiza após as ações da Tenda acumularem mais de 65% de perda em agosto. Os investidores de ambas as companhias se mostraram satisfeitos com a operação, já que às 10h55 as ações da Tenda (TEND3) disparavam 30,66%, para 4,90 reais, enquanto as da Gafisa (GFSA3) subiam 10,53% para 25,80 reais.  

Em comunicado enviado à BM&FBovespa, as companhias informam que a Tenda incorporará a Fit, de forma a manter suas operações na Bolsa. "Após a incorporação, a Gafisa passará a ser titular de ações representativas de 60% do capital total e votante de Tenda, mantendo-se o percentual mínimo de ações de Tenda em circulação necessário à permanência da companhia no Novo Mercado." O valor do negócio e demais detalhes da operação não foram divulgados.

A Fit iniciou suas operações em março de 2007 e, assim como a Tenda, atua junto ao público de baixa renda. O segmento, apesar de concentrar a maior parte da demanda potencial do país, é um dos mais arriscados do setor, uma vez que engloba a população mais impactada pela elevação dos juros e da inflação. A taxa de cancelamento de vendas é um dos pontos mais preocupantes dos negócios da Tenda. O percentual caiu de 48% no segundo trimestre de 2007 para 22% no mesmo período deste ano, mas ainda assim é considerado bastante alto pelos especialistas. O objetivo da empresa é reduzir esse número para a faixa entre 15% e 20% até o final do ano.  

Tempos difíceis

Há semanas a Tenda sofria com as más perspectivas para seus negócios. Na última quarta-feira (27/8), os bancos de investimento Goldman Sachs e Credit Suisse divulgaram relatórios destacando que a empresa enfrentaria dificuldades nos próximos meses para financiar seus projetos. O Goldman Sachs retirou sua recomendação de compra das ações da companhia, enquanto o Credit Suisse ressaltou que a Tenda teria de recorrer à emissão de debêntures, um mercado mais caro e restrito que o financiamento para a construção atrelado à taxa referencial. A instituição afirmou, ainda, que a capacidade de entregas da Tenda – atualmente em 200 unidades por mês – é muito baixa para uma companhia que lançou quase 40 mil unidades nos últimos 18 meses.

A Tenda chegou a enviar comunicado ao mercado afirmando que os analistas  "equivocaram-se ao entender o número de unidades (média mensal de 200) já entregues pela companhia no primeiro semestre do corrente ano como sendo relativo à capacidade de entrega futura de unidades, dados futuros esses não comentados pela administração". Porém, na avaliação do analista da corretora Fator, Eduardo Silveira, os números apresentados no último balanço, divulgado no dia 13 de agosto, mostravam que provavelmente a empresa não conseguiria cumprir neste ano sua meta de margem de lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortizações (Ebitda).

Com a incorporação da Fit, a Tenda receberá um caixa líquido de pelo menos 300 milhões de reais. Além disso, "na data da operação, a Fit deverá ter um capital social de, pelo menos, R$ 420 milhões, totalmente subscrito e integralizado por Gafisa (exceção feita a duas quotas)", esclarecem as companhias em comunicado ao mercado.

Consolidação

O setor de construção civil é um dos mais pulverizados do Brasil. Existem hoje mais de 20 empresas listadas na Bolsa, sendo que mais da metade abriu capital no ano passado. A forte expansão do mercado imobiliário nos últimos meses elevou as expectativas em relação à consolidação do setor. Em junho, a Cyrela pagou 1,5 bilhão de reais pela Agra. Pouco mais de um mês depois, a Abyara vendeu sua área de corretagem para a consultoria imobiliária Brasil Brokers por 250 milhões de reais. Neste ano, as ações da Abyara acumulam 71,5% de desvalorização.

Já a InPar – que é a campeã no ranking de maiores perdas do setor, com queda de 81,5% nas ações em 2008 – anunciou no dia 15 de agosto que vai vender parte de seus ativos para fazer caixa. A meta da empresa é levantar 400 milhões de reais para a compra de terrenos.  

A Helbor e a Company, após 90 dias de conversa, não conseguiram chegar a um acordo. Mas não estão descartadas novas tentativas no futuro.

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