quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Operação Gafisa-Tenda define estilo da consolidação no setor; qual a próxima?

SÃO PAULO - A manobra da Gafisa (GFSA3) na Tenda (TEND3), através da FIT Residencial, braço da incorporadora voltado à baixa renda, embrião da Nova Tenda, agitou o setor imobiliário ao apagar as dúvidas em torno do movimento de consolidação do setor. À maneira clássica: grupos maiores engolindo empresas menores com dificuldades.

Tanto pela semelhança com a aquisição da Agra (AGIN3) pela Cyrela (CYRE3) quanto pela situação corrente de empresas de incorporação e construção imobiliária, ameaçadas por problemas de caixa diante de um mercado de capitais mais restrito, a operação simboliza uma tendência que deve encontrar novos endereços até o final do ano.

Ingadados pela InfoMoney, analistas disseram acreditar em aceleração do processo de consolidação, através de novas transações parecidas com a que originou a Nova Tenda até o final do ano. A atual diferença de preço das ações sugere oportunidades. Das 24 empresas listadas do setor, nove já perderam mais da metade do seu valor em 2008.

"[A operação entre Gafisa e Tenda] leva a crer que outros controladores em situação difícil do ponto de vista de capitalização, de liquidez e avaliação de ações, provavelmente passariam a olhar com outros olhos a possibilidade de venderem suas empresas", opina Rafael Pinho, da BullTick Capital Markets.

Alvos
A aposta de redução no número de construtoras na Bovespa leva em conta a polarização existente. "Existem muitas empresas e algumas delas estão bastante capitalizadas, enquanto outras estão menos e com maior dificuldade para entregar os resultados", avalia Rodrigo Bicalho, sócio do escritório Bicalho e Mollica Advogados.

Os especialistas já especulam as próximas cartadas. Entre os eventuais alvos, foram citadas CR2 (CRDE3), Even (EVEN3), EzTec (EZTC3), Inpar (INPR3) e Trisul (TRIS3). "A maior dificuldade de crédito agrava a dificuldade das empresas. E, em situação mais critica, a melhor saída acaba sendo ser incorporado por uma outra maior", interpreta Bicalho.

Antes mesmo da incorporação, levantamento da equipe do Santander já apontava que a Tenda havia queimado boa parcela de seus recursos disponíveis no segundo trimestre. O oposto da Gafisa, que pertence ao grupo dos consolidadores e pode protagonizar uma outra operação, segundo analistas.

Consolidadores
Na ponta compradora, no entanto, quem rouba a cena é Cyrela e PDG (PDGR3). "A PDG é uma das mais capitalizadas do setor. Tem uma cabeça muito financeira, dado o management egresso do Banco Pactual", lembra Rafael Pinho. De fato, a empresa está estudando possíveis alvos de aquisição, apurou a InfoMoney.

A incorporadora tem hoje um perfil de baixa renda, bem diversificado geograficamente, e carrega uma exposição abrangente de alta renda no Rio de Janeiro. Uma operação de média e alta renda em outros lugares do Brasil seria potencialmente positivo à companhia.

"Para a Cyrela, que já é uma empresa mais completa, faria sentido uma outra de baixa renda. Ela já tem uma fatia neste mercado, mas tem uma vontade de expandir mais no segmento. Enfim, vai de caso a caso", segundo avaliação de Luiz Liuzzi, analista GAS Investimentos.

Barreiras
Se o produto e os mercados de atuação das empresas podem ser determinantes em novos casos - o que deixa as voltadas ao público da baixa renda como candidatas mais prováveis do assédio das grandes -, é importante destacar que a crença em uma rodada mais intensa de consolidação considera uma situação crítica das companhias.

Apenas o extremo poderia seduzir os donos das companhias, no caso das novatas, grupos familiares, a abrirem mão do seu negócio. "Os controladores da Tenda se viram forçados a acelerar um processo que já vinha sendo estudado. Mas não tenho dúvida que o movimento recente das ações em bolsa incentivou", afirma Luiz Liuzzi.

Por outro lado, se o problema dela for mais a médio prazo, há chance das empresas aguardarem um pouco mais, para tomar uma decisão. Na semana passada, ao mesmo tempo em que noticiou a conclusão do programa de recompra de ações anunciado em abril, a EzTec informou que seu conselho aprovou novo programa.

Por: Conrado Mazzoni Cruz
09/09/08 - 20h14
InfoMoney

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