O brasileiro encontrou mais emprego e está chegando mais preparado ao mercado de trabalho. Os trabalhadores com carteira assinada já somam 81,4 milhões, um aumento de 2,1% que faz parte da relatório do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) publicado nesta terça-feira (30/9). É a segunda análise dos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2007, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que mostra inclusive crescimento de 3,2% na remuneração do trabalhador em relação a 2006, embora os R$ 960 fiquem ainda bem abaixo dos R$ 1.101 de 1997.
As contratações com carteira assinada ultrapassaram os números estimados do mercado informal, totalizando 51,1% dos trabalhadores empregados. O número ainda está longe dos ideais 75%, mas vem mantendo a seqüência de diminuição observada nos últimos três anos. Somando a expansão nas duas frentes, o nível de ocupação chegou a quase 91 milhões de trabalhadores em 2007.
Embora a crise financeira mundial ameace os índices de crescimento brasileiro, até agora os dados apresentam um cenário positivo. O país deve crescer em menor ritmo, mas com possibilidades de manter a tendência de mais empregos. "A crise está se mostrando mais forte do que se esperava”, diz a professora da faculdade de Economia da Universidade São Paulo, Maria Cristina Cacciamali. “Mas se China e outros países redirecionarem suas exportações para o mercado interno, em vez de reduzir a produção com a provável redução das compras dos EUA e países europeus, a crise deve atingir com menor força países emergentes, como o Brasil", afirma Maria Cristina.
No mais recente levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o nível de emprego mantinha seu ritmo de crescimento pelo 32o mês consecutivo, registrando um aumento de 4,4% nos setes primeiros meses do ano em relação ao mesmo período de 2007. As contratações seguem na esteira dos bons resultados da economia: no primeiro semestre, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil cresceu 6%, um recorde histórico.
Para a estudiosa do trabalho e de políticas públicas, os dados positivos do Pnad podem ser celebrados, mas precisam ser entendidos dentro do momento que estamos vivendo. "Ao longo dos próximos cinco a sete anos vamos presenciar mudanças muito profundas na divisão e estruturação do trabalho que terá um impacto no país". Vai ajudar, porém, o fato que o trabalhador brasileiro já chega mais preparado ao mercado. No ano passado, o IBGE apontou que 41% dos trabalhadores empregados possuíam 11 ou mais anos de estudo. Em 2001, o percentual não passava de 30%. Na outra ponta, 16% dos trabalhadores têm até três anos de estudo.
Fila não anda
Na contramão, o maior número de oportunidades do mercado trabalho e a economia aquecida acabam atraindo jovens ainda em idade escolar, que trocam a sala de aula pela chance de fazer dinheiro. Segundo o IBGE, 2,5 milhões de crianças de 5 a 15 anos trabalham, a maioria no mercado informal. Desses, 20 mil não estudam, apenas trabalham. Pior: mais de 62 mil nem estudam e nem trabalham.
Apesar das políticas governamentais, a redução nos índices de trabalho infantil não foi significativa. Já evoluiu na interação da família de que a criança bem escolarizada tem mais chances de contribuir na renda daquela casa no futuro, mas não é tão eficiente para jovens de 15 a 19 anos. "Se a família não tem capacidade de satisfazer as necessidades do jovem, ele vai largar o estudo para trabalhar e prover essas necessidades", diz Maria Cristina. "Se esse jovem achar que vai aprender mais na rua, ele vai para a rua. É preciso que a escola continue oferecendo conhecimento e criando expectativas positivas em relação ao futuro."
Mais fiscalização
A análise anterior do Pnad mostrou que o brasileiro está vivendo mais tempo e, conseqüentemente, dependerá por mais anos da Previdência. Nesse cenário, a preocupação com a possível interrupção no crescimento brasileiro é ampliada porque os números mostram que a recuperação iniciada em 2001 ainda não conseguiu suplantar os péssimos resultados dos anos 90.
O número de contribuintes era de 51,8% em 1987 e caiu até atingir 45,1% em dez anos. A reação começou em 2001 e chegou a 51,2% no ano passado. O ideal seria que 75% da força de trabalho estivessem empregados e contribuindo para a Previdência, diminuindo o abismo que é mais acentuado nas regiões Nordeste e Norte do país.
Hoje o setor terciário é um dos grandes responsáveis pela reação do mercado. Também é um dos mais difíceis de fiscalizar. "Depois dos anos 90 criou-se a mentalidade de que ter um emprego, ainda que em condições avessas à lei, sem carteira, era melhor do que nenhum emprego", diz a professora da USP. O governo acabou fechando os olhos para as práticas paralelas do mercado e a informalidade disparou. "Agora está na hora de sanear as práticas de mercado, algo que seria positivo para todos. E o único modo de fazer isso é fiscalizar mais as empresas."
Dados do IBGE, analisados pelo Ipea, mostram que salário e o número de postos de trabalho cresceram no ano passado
Por Soraia Yoshida
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